The Dream Machine é um objeto que altera a frequência das
ondas cerebrais do usuário, isto é, quando o cérebro passa a emitir ondas alfa,
intermediárias da passagem dos estados de vigília e sono, por exemplo. À medida
que se é exposto à “máquina”, experimenta-se a formação de imagens com os olhos
fechados, como “filmes internos” ou alucinações.
A invenção consiste basicamente num cilindro talhado com uma
lâmpada no interior; o efeito é gerado quando o cilindro gira sobre uma vitrola,
com a lâmpada ligada, a partir da frequência constante da rotação. Logo padrões
de cores se convertem em formas diante do espectador. Para interromper o
efeito, basta abrir os olhos.
Trata-se de uma criação do pintor Brion Gysin e do matemático
Ian Sommerville. Em 21 de dezembro de 1958, Gysin relatou em seu diário a
experiência que o levou a criar The Dream Machine:
“Tive uma tempestade transcendental de visões coloridas no
ônibus, indo pra Marselha. Andamos por uma longa avenida de árvores e fechei
meus olhos contra o sol poente. Uma fluxo avassalador de padrões intensamente
brilhantes em cores sobrenaturais explodiu atrás de minhas pálpebras: um
caleidoscópio multidimensional girando pelo espaço. Fui varrido para fora do
tempo. Eu estava em um mundo infinito. A visão acabou abruptamente quando
saímos das árvores. Aquilo foi uma visão? O que aconteceu comigo?”*
Gysin só descobriu o que havia experimentado em 1960, quando
leu o livro The Living Brain, do
cientista W. Grey Walter. Entendeu que foi submetido ao que se chama de
“flicker” – algo como uma oscilação rápida de luz ou brilho –, um fenômeno
comum, mas em circunstâncias especiais.
Amigo de Gysin, Ian Sommerville também leu o livro de Walter.
Ao ouvir o relato do pintor, decidiu recriar a experiência com um gramofone de
78 rpm, uma cartolina e uma lâmpada de 100 wats.
“Depois de um tempo, as visões permaneceram atrás de meus
olhos e eu fiquei no meio da cena toda com padrões ilimitados sendo gerados à
minha volta. Havia um sentimento quase insuportável de movimento espacial por
um tempo, mas valeu a pena continuar porque descobri, quando passou, que eu
estava acima da Terra num esplendor universal de glória. Mais tarde, minha
percepção do mundo à minha volta tinha aumentado significativamente”, escreveu de
Cambridge a Gysin, em fevereiro de 1960.
Brion Gysin e Ian Sommerville à frente do experimento. Foto: Herman Leonard |
A partir das instruções de Sommerville, Gysin construiu sua Dream Machine no Beat Hotel, em Paris. Ele chegou a patentear a invenção em julho de 1961 e lançá-la no ano seguinte, no Museu do Louvre, mas nunca conseguiu promovê-la para além de um grupo restrito de artistas, sobretudo os beatniks.
O beat mais próximo de Gysin era William S. Burroughs, com
quem já tinha dividido as cut-ups, uma técnica de colagem desenvolvida também
no Beat Hotel, em 1959. Burroughs se apropriaria do método para compor seu
livro mais conhecido, Naked Lunch, e
a trilogia “ilegível” The Ticket that
Exploded, Nova Express e The Soft Machine.
Ao longo dos anos, a Dream Machine foi promovida notadamente
pela artista Genesis P-Orridge, à frente do grupo ocultista Thee Temple ov
Psychick Youth. Também foi utilizada por alguns nomes conhecidos – Iggy Pop,
David Bowie, Paul McCartney, Beck, Kurt Cobain.
Não é complexo construir uma Dream Machine em casa: veja as instruções.
---
* Os trechos (em inglês) citados estão na biografia William S. Burroughs: El Hombre Invisible,
de Barry Miles, 1992.
Comentários
Postar um comentário